Ativista pelos direitos femininos em um dos países com maior desigualdade de gênero no mundo, a afegã Khatera Mohmand, 38, enfrentou muitas batalhas para combater a violência contra a mulher no serviço público que chefiava.
Mas poucos momentos foram tão difíceis quanto ter que explicar à própria filha, Lema, 8, que ela não poderia mais ir à escola. "Ela me perguntou: ‘o quê? Por quê? Eu adoro a escola, eu quero ir’", conta. "Como eu iria explicar isso para ela? Como dizer que ela não pode estudar, mas os meninos, sim?".
Chefe do departamento de equidade de gênero de uma organização do governo, Khatera deixou seu escritório às pressas no dia 15 de agosto do ano passado, quando o Talibã entrou em Cabul e, em um ofensiva relâmpago, assumiu o poder central.
Ela é a última entrevistada de uma série de três mulheres que contaram suas histórias à Folha um ano depois que o Talibã voltou a governar o país. São afegãs que viveram a maior parte da vida com acesso a alguns direitos básicos —ir à escola, caminhar pelas ruas e trabalhar— e que viram tudo isso desaparecer de um dia para o outro. (Flávia Mantovani)
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